29 janeiro 2008

A Esperança

Não vou falar da esperança como se faz nos velhos receituários moralistas ou nas canções de gosto duvidoso. Gostaria de torná-la matéria nobre, sem a imagem sobrecarregada de cansaço e de vãs ilusões, que faz com que a esperança seja confundida com toda e qualquer forma de messianismo.
Os gregos não gostavam da esperança; para eles, acreditar que algo ia acontecer era uma forma de paranóia, ou seja, pensamento paralelo, defeituoso – no dizer de James Hilman -, porque não faz sentido esperar por esperar.
É difícil pensar a esperança, ainda mais numa época tão vazia de perspectivas, e de uma racionalidade tão vaga e utilitária. Nos desacostumamos a pensar valores abstratos, tão alto a lógica do lucro, dos valores utilitários, fala dentro de nós. Mas são valores abstratos – concretos no plano psíquico -, que dão a tônica da vida humana, aliás, é isso que a torna humana.
Então, é preciso pensar a esperança, para que não cedamos à lógica fácil e comodista dos senhores do capital. Mas pensar a esperança como se pensássemos com a mãos e como se as mãos carregassem nossos corações.
É que a esperança é fruto e colheita, e temos de cultivá-la, preservá-la, aconteça o que acontecer, venha o que vier, com o trabalho de nossas mãos, sabendo que o dia seguinte só irá existir se o construirmos.
Vozes apressadas, maldosas, anunciam a morte da esperança. Como se a esperança estivesse presa na bandeira de um partido, num nome que se grita, num santo que se acredita. Essas vozes esperam que nada mude, porque a eles não interessa a mudança. São as vozes dos banqueiros, da velha e decrépita elite que, incapaz de aceitar as mudanças históricas, apressam-se em fazer coro com os funerais da morte da esperança. São as vozes dos ressentidos, dos que veladamente odeiam tudo o que cheire a liberdade, revolução, mudança. São os ex-senhores de engenho, capitães do mato reformados, falsos líderes e toda classe média que anda sempre à procura de um espelho.
Nesses dias de intensa crise política, as esperanças foram sufocadas, a esperança foi amordaçada. Porque o coro dos contrários da elite ressentida, dos hipócritas políticos – do PT inclusive -, da imprensa prostituída, quer nos fazer crer que o fracasso do governo do PT e do próprio PT é o fracasso de um projeto histórico de mudanças profundas, justamente ansiadas, durante tempos e tempos, pelo grosso da população.
Não, senhores. Lamento informar, mas a esperança passa bem, obrigado. Porque a esperança não é uma bandeira, um nome no dicionário, uma necessidade psicológica de preencher um vazio existencial: a esperança é nossa capacidade de construirmos um futuro, mão à mão, palmo a palmo. Não precisamos de governo nem de senhores que nos dêem esperança, não precisamos de palanques nem de templos: a esperança brota do fundo de nós, como planta luminosa que cresce devagar. E pedra por pedra a ergueremos, quer faça sol ou não.