23 agosto 2010

Pílulas para Acordar - Sabedoria contra O Capitalismo Real III


Ocultamentos

- O "Endomarketing" das empresas esconde os fatos, mascara o real. As revistas corporativas visam tanto legitimar os procedimentos de exploração quanto projetar uma imagem da realidade: o real é diluído em imagens felizes, em lemas de auto-ajuda, na propaganda de ações corporativas que servem para negar o stress real, o adoecimento, a dor; é como se dissessem aos trabalhadores: vocês nunca foram tão felizes senão escravizados...

- Os muros: em torno da Palestina, em torno das favelas do Rio de Janeiro: o opressor não só não quer ver o resultado da opressão, como ainda o esconde.

- Os diagnósticos sobre saúde mental: o ocultamento da loucura e da depressão coletivas.

- A literatura de auto-ajuda a mascarar o absoluto sem sentido que a vida se tornou.

- As estatísticas sobre a violência: no Brasil a tortura contra presos comuns é uma prática sistemática e o Estado não faz nada contra isso. Presos comuns são pobres. No dia em que for torturado um filho da burguesia o Estado abrirá os olhos.

- O socialismo tecnológico dos gadgets a esconder o abismo intransponível das classes.

- O virtual e o real: o virtual - uma sociedade livre, onde a felicidade depende do esforço individual, mas tendo a garantia do Estado de que se é livre para buscá-la. O real - uma sociedade de classes onde uma maioria é explorada até a exaustão, onde uma minoria garante para si a perpetuação do poder e de seu modo de vida auto-fágico, mesmo que às custas do próprio planeta.

- É preciso desmistificar o aparente. O real é mais complexo do que o discurso sobre o aparente; para entender o real, seja ele social, econômico ou mesmo abstrato-científico, é sempre preciso ir além do senso comum.

- Disseminar o senso-comum é uma maneira de esconder a opressão.

- O patriarcalismo e as oligarquias brasileiras esbanjam o uso do senso comum e do aparente em seus discursos.

- A aparente legitimidade do poder da burguesia é uma mentira: não há legitimidade num poder que se mantém à base de violência, corrupção e dinheiro.

- "A essência da realidade reside na resistência ao conhecimento." - Gaston Bachelard, no ENSAIO SOBRE O CONHECIMENTO APROXIMADO

- Com o real social acontece o mesmo, mas a complexidade é também pelo fato de que a sociedade é uma construção humana e o homem nega, rejeita ou não se reconhece em seus próprios objetos.

- A informação (jornalística) é uma construção ou uma deslavada mentira. A mídia constrói um discurso fictício e projeta um mundo fictício, para que as pessoas permaneçam adormecidas dentro daquilo que lhes oprime.

- Não há sentidos no existente, nem para os oprimidos nem para os opressores. Ambos estão aprisionados em cadeias ilusórias de sentidos: os oprimidos, na luta pela sobrevivência e nas esperanças religiosas; os opressores, no consumismo de luxo, nas relações em torno do status quo,no apego às evidências de sua riqueza.

- É preciso que a angústia e o vazio mobilizem as forças individuais para criarem novos valores.

- Não há raças, dizem os racistas de plantão quando querem condenar o sistema de cotas. Mas a questão não é biológica, é histórica. Os negros, após a escravidão, nunca receberam nenhum amparo do estado, saíram das senzalas para as favelas. É preciso corrigir essa distorção histórica.

- O que se esconde: que a opressão não é natural, que o trabalho é uma força que se reproduz através dos sujeitos mas que não os liberta, que não há o menor sentido na vida que se leva, que o presente já se esgotou.

- É preciso ficar atento aos relógios. O tempo é manipulado contra nós.

- É preciso falar aos quatro ventos: no Haiti, para aliviar a fome, as pessoas comem bolos de argila e gordura. No Haiti, por causa da fome, as pessoas comem bolos de argila e gordura. No Haiti as pessoas comem bolos de argila e gordura.

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09 agosto 2010

Pílulas Para Acordar - Sabedoria Contra o Capitalismo Real II

- A manipulação do som: a permanência da música e dos sons nos ambientes, a morte do silêncio.

- A imprensa, a mídia como um todo.

- A ocultação dos sujeitos sociais.

- A luta contra a interioridade: é preciso esvaziar os indivíduos para que eles sejam plenamente objetivados; esgotamento das possibilidades de pensar e reagir, controle dos ambientes pela manipulação do som e das imagens.

- Luta contra o vazio (criador): o silêncio induz à introspecção, então, luta-se contra o silêncio. A solidão também, então luta-se contra a solidão.

- Religiões e mercado se confundem: os neopentecostais combatem o silêncio e estimulam tudo o que é gregário: a autonomia do pensar é heresia.

- A autonomia do pensar é uma forma de heresia: as universidades legitimam a ordem. A academia é a sala de estar onde a ordem burguesa se justifica.

- Behaviorismo in progress: aonde nos levará a manipulação genética sob a ideologia capitalista ?

- As magias negras do capitalismo: no Brasil e alhures, a opressão das faltas mínimas de condições de vida garante que os indivíduos não tenham tempo e condições de refletirem sobre sua própria condição.

- Sísifo em ação: um trabalhador na cidade de São Paulo no metrô às 7 da manhã.

- Sísifo em ação: um trabalhador na cidade de São Paulo no metrô às 7 da noite.

- A mentira bioquímica: a depressão é um sintoma social - o resto é consequência.

- O suicídio coletivo é uma saída ?

- As magias negras do capitalismo: no Brasil, a barbárie da justiça.

- A negação do tempo biológico (cotidiano) e a interatividade eletrônica como forma de extensão do tempo de trabalho.

- Religião e lucro: se até Deus goza com o dinheiro e recebe dízimos substanciais, o que dizer então do próximo ?

- Os pastores têm os bolsos cheios de Deus.

- O Vaticano tem um banco cheio de Deus.

- As magias negras do capitalismo: a violência sexual velada e consentida contra as crianças.

- O lucro advindo da pornografia virtual e a violência real contra as crianças.

- A ilusão das cidades: as multidões não garantem o sentido.

- A desnaturação do outro para garantir a permanência do mesmo.

- A expansão do non-sense através das vanguardas ou as vanguardas como expressão do non-sense - ruptura entre arte e vida.

- A radicalidade quântica desmonta a hegemonia eterna do capitalismo: segundo princípio da termodinâmica aplicado às dinâmicas econômicas.

02 agosto 2010

Pílulas Para Acordar - Sabedoria Contra o Capitalismo Real

A partir de hoje passo a publicar uma série de reflexões sobre aquilo que chamo de "Magia Negra do Capitalismo"; são aforismos e reflexões que visam discutir as maneiras pelas as quais o Capitalismo oculta, seduz e mascara a realidade e as pessoas, para convencê-las para suas estratégias produtivas enquanto o mundo caminha para o abismo. Há um todo, uma totalidade nas reflexões, mas elas seguem o modelo aforismático próprio de um pensar marcado intuição aliada à reflexão mais rigorosa e contida.


Apresentação

Quando os capitalistas já se sentiam como senhores absolutos do mundo, quando o neoliberalismo já se sentia na posse do trono da História - ao ponto de um de nos anos 90 um de seus ideólogos ter proclamado aos quatro ventos que a história chegara ao fim e que esse sim, no sentido hegeliano, era a sociedade de mercado e a democracia liberal de fins dos século XX -, quando a hegemonia burguesa e seu discurso pareciam incontestáveis, eis que uma crise gigantesca se instaura no coração do capitalismo, desmentido o que parecia evidente (pelo menos para os ideólogos da direita), trazendo em seu bojo uma crise de legitimidade que tão cedo os ideólogos burgueses conseguirão dar respostas.
Mas ao mesmo tempo, os pressupostos ideológicos do capitalismo ainda são (e serão) presentes no dia a dia das massas como evidência, como a aparência que garante a legitimidade e a permanência do senso comum, de modo que aquilo que foi sócio-historicamente construído é apresentado como resultado de um processo natural, e como tal, a ordem natural, impossível de ser modificada. Não é à toa que encontramos mesmo trabalhadores que defendem as demissões em massa, a redução de salários, a competição entre trabalhadores, bem como a massa global, com poucas exceções, é adepta de um consumismo desenfreado, de modo que todos cumprem aquela máxima de Marx, de que o capitalismo criava "sujeitos para os objetos".
Que discurso tão poderoso é esse que cega as pessoas para que não enxerguem o que é aparente (a opressão da luta de classes) e, pior que isso, que mesmo aqueles que são explorados defendam o discurso do explorador ? Que tipo de magia há no capitalismo para que sua violência seja não só aceita, mas legitimada e reproduzida por aqueles que a sofrem ? Que tipo de véu discursivo é esse que as pessoas vendo, não enxergam (a realidade) e enxergando não conseguem nomear o que vêem ?
É preciso refletir a partir do comum, desmistificar o bom senso e a boa ordem, porque eles são o bom senso e a boa ordem "para alguém", e não um bom senso universal; as únicas universalidades possíveis do capitalismo são universalidades instrumentais - a da produção e do consumo -; não há uma universalidade decorrente de um gesto intencional de atingir e difundir um valor ideal acima das classes, porque isso não faz parte do capitalismo: primeira tarefa - desmistificar a universalidade capitalista a partir dos dados imediatos do cotidiano, mas do que é comum ao cotidiano das classes pobres e não da burguesia.
É correto pensar - e dizer -, que o discurso capitalista atual lança um poderoso véu de obscurecimento, uma magia negra poderosa que faz com que os sujeitos sociais aceitem abrir mão da luta pela liberdade em nome da segurança que o anonimato e anulamento (enquanto sujeitos históricos) lhes dão. Aliás, liberdade é uma palavra esquecida, como se ela fosse o existente que não mais precisasse ser buscado; não é à toa que ideólogos eminentes do neoliberalismo - como Vargas Llosla tratam a liberdade de mercado como se fosse a Liberdade, e quando atacam governos progressistas de esquerda - como o de Evo Morales na Bolívia, o fazem em nome de uma pretensa "democracia" anterior, como se aquela democracia anterior fosse uma garantia de liberdade, pelo menos política. Ora, basta lembrar que o governo neoliberal que governou a Bolívia antes de Evo Morales é o mesmo governo que privatizou o sistema de água de La Paz, obrigando a população a tomar as ruas exigindo a reestatização do sistema de água como uma garantia que era obrigação do Estado e como tal não poderia ser privatizado; sem esquecer os inúmeros golpes militares de direita de que a Bolívia foi vítima, e que esses ideólogos neoliberais esquecem, calam ou silenciam.
Que magia negra é essa que faz com que, à beira de um colapso ecológico mundial, ainda encontremos defensores extremados do "desenvolvimento, da produção e do consumo", como se essas palavras possuíssem um valor absoluto e inquestionável, como se fosse possível fazer voltar atrás a roda da destruição da natureza ? O capitalismo só existe através da ação de seus agentes, ação esta que é individualizada em algum momento da história. Se uma área é devastada na floresta amazônica para virar pasto para o gado ou para virar plantação de soja, o é através da ação de grupos e pessoas que num dado momento, através do lobby, conseguem a cessão de área públicas (ou mesmo com a grilagem) e depois, através de pressão, conseguem o aval para desmatarem e destruírem como parte de um processo justificado e legal, ainda que ilegítimo e espúrio. (As mudanças no Código Florestal são um exemplo. Parabéns, Sr. Aldo Rebelo! As matas que serão destruídas agradem).
Na verdade, o capitalismo é criminoso - por sua vez os capitalistas também o são - em diferentes medidas, em diferentes lugares, em diferentes tempos. São criminosos não somente os produtores de armas (que indistintamente vendem para ditadores, corruptos, tiranos e mercenários, que matam mulheres, crianças, animais, etc), mas também os que vendem botas para os exércitos, os que se utilizam de mão de obra semi e escrava, a indústria farmacêutica que lucra com o comércio da vida e que maltrata animais; como também são criminosos os processos do capital, que invariavelmente envolvem grandes esquemas de corrupção (engana-se quem pensa que a corrupção é endêmica somente no "terceiro mundo", ela é endêmica ao capitalismo).
Num mundo de mais de 6 bilhões de habitantes, quantos pensam sobre o que de fato acontece com o mundo ? Poucos, quase ninguém, mas não só não pensam, como legitimam e reproduzem a ordem das coisas. Marx analisou com propriedade a alienação, mas há um elemento do presente do discurso e da práxis capitalista que o torna singular - peças de retórica e artimanhas conceituais que visam cegar as pessoas para os reais propósitos do capitalismo, de manter a exploração dos ricos sobre os pobres, de continuar explorando a natureza até a exaustão, de manter intactas as estruturas que garantem sua reprodução autofágica até a morte do planeta.
Então, como acordar ? Como fazer com que as pessoas abram os olhos e saiam de seu sono de pedra e metal ? Nessas reflexões - Pílulas par Acordar - Sabedoria Contra o Capitalismo Real - nos utilizamos do aforismo como ferramenta para pensar e desmistificar a dominação, como ela aparece no dia a dia - em casa, no trabalho, na mídia, na rua, nas conversas nos ônibus, em suma, tal como aparece em sua prática cotidiana. O capitalismo não existe sem um certo modus operandi, sem um certo modo de vida; esse modo de vida é a garantia de sua existência; é uma triste ironia que aqueles que são explorados reproduzam esse modo de vida que vai perpetuar essa mesma exploração.
Pílulas para Acordar - Sabedoria Contra o Capitalismo Real, é um exercício de liberdade crítica e um libelo contra o capitalismo. É preciso reunir todas as armas possíveis na luta contra o capitalismo, e a retórica é uma delas - instrumento vital para desmascarar a opressão, esvaziar os sentidos aparentes, desmistificar o senso comum, mostrando que a aparência é uma construção.


As magias Negras do Capitalismo
- as magias negras do capitalismo: o aprisionamento demiúrgico dos sujeitos ao trabalho; as ilusões instantâneas do consumismo como engodos de redenção; a manipulação do tempo como maneira de aprisionar os indivíduos.

- as magias negras do capitalismo: a retórica do narcisismo sem espelho (os sujeitos recebem sofismas de distração e nunca acham a si mesmos refletidos.

- Diz-me o que compras que te direi quem és.

- Diz-me o que compras que te direi se és feliz.

- A retórica mentirosa da burguesia e do discurso sobre o trabalho como valor supremo.

- O discurso salvacionista-ecológico das empresas e as práticas predatórias.

- As benesses da ciência a esconderem a manipulação da vida.

- A medicina e a felicidade química.

- O telemarketing, a burocracia, os sistemas de controle e vigilância tipo big brother.

- A taxionomia financeira.

- O discurso sobre a universalidade e perenidade do capitalismo.