03 setembro 2015

A Questão Indígena e os Guarani-Kaiowá


Com um governo que se diz popular, mas que possui como ministra da agricultura uma latifundiária célebre - Kátia Abreu - conhecida adversária dos índios, a questão indígena foi abandonada: as demarcações de terras foram paralisadas e terras já demarcadas passaram a ser questionadas; a Funai está praticamente largada e sob a pressão dos latifúndios e à margem do sistema e dos valores do mundo capitalista, os indígenas estão à míngua, largados à própria sorte.É errôneo imaginar que as comunidades indígenas estão paralisadas no tempo e que a mentalidade delas remonta às 'priscas eras', mas sem dúvida, seu relacionamento com a natureza é um parâmetro de modus vivendi entre o homem e o meio, e temos mais a aprender com elas, as comunidades indígenas, do que elas com nós: nós temos doenças, um sistema econômico autofágico, uma sociedade narcisista, sempre a olhar para um espelho vazio; eles possuem uma sabedoria milenar, o amor pela vida no que ela é - a natureza, o meio, e um equilíbrio que nós desaprendemos.Nosso 'progresso' é uma miragem e como toda miragem no deserto, nos leva à morte.Por isso e tantas outras razões, defender as comunidades indígenas e em particular os Guarani-Kaiowá não é nenhum gesto de bondade, mas sim de bom senso - por um lado, e de justiça, por outro, porque é preciso lembrar que, de acordo com a Constituição de 1988, é dever do Estado a proteção das comunidades indígenas - coisa que o Estado brasileiro não vem fazendo, e a violência disseminada só avança porque o governo é conivente, com seu silêncio e sua cumplicidade, direta ou indireta - com madeireiros, latifundiários e capitalistas em geral, que não desejam somente as terras indígenas, mas eliminar com os povos indígenas, que são considerados um obstáculo ao avanço violento, possessivo, destrutivo, sanguinário, burro, autofágico, poluente, e mais tantos outros adjetivos, do progresso.Onde esta, nessa hora, a polícia federal, que não cumpre seu papel de defender aqueles que pela constituição são tutelados do Estado brasileiro (os povos indígenas)? Onde está o ministro da justiça, que há anos assiste massacre pós massacre, assassinato após assassinato de lideranças indígenas, de mulheres e crianças e não faz nada, sentado em seu gabinete?É preciso denunciar: O Estado brasileiro é cúmplice de um genocídio em curso, precisamos defender os Guarani-Kaiowá e denunciar os crimes, a cumplicidade do Estado com a violência, bem como a ação local de fazendeiros e capatazes que, sob a vista grossa das polícias e das prefeituras locais, impunemente cometem seus crimes sem que nada aconteça.Será que ficamos assim tão idiotas e indiferentes a ponto de perdermos nosso senso de justiça? Será que estamos tão anestesiados que nem reconhecemos mais a face da morte, principalmente dessa morte que vem com a sombra da cobiça e da cupidez, da fome de dinheiro? Me recuso a aceitar essa morte em vida. Reivindico aqui minhas heranças indígenas - meu sangue kariri, meu sangue tupi, guarani, tupinambá, meu sangue maué, kisedjé, yanomami, todos os povos, todas as tribos, todos os bichos, todos as plantas estão em meu sangue, sou Guarani-Kaiowá e aqui denuncio: não podemos aceitar calados o extermínio silencioso de todo um povo.

08 dezembro 2010

Que Fazer ?

A História é o lugar da queda, mas também da redenção. Há pessoas que pensam, há pessoas que agem e há pessoas que pensam e agem. Goethe dizia que "No principio era a ação", desse agir levado pelos impulsos mais secretos ou instintos mesmo, que permitem um agir intuitivo. Os que pensam são racionais, os que agem diretamente são intuitivos; às vezes os intuitivos acertam, às vezes os racionais acertam. Mas ambos se igualam em uma coisa: querem agir. Não querem ficar indiferentes à realidade; para ambos ela é a matéria plástica onde os sonhos se moldam. Para o bem ou para o mal, o importante é agir. Deus vomita os mornos, já nos disse Dante. A indiferença é um sintoma do mais extremo egoísmo ou tibieza. Não falo dos contemplativos, porque a contemplação é também uma forma de ação que se justifica numa visão de mundo. Falo daqueles que ficam inertes na mais completa indiferença frente às coisas, as pessoas, o mundo.
Sou, antes de tudo, poeta. É através da poesia que enxergo o mundo. Há muito tempo não publico livros de poesia; isso não importa; continuo produzindo, publicando na blogsfera (a esfera da manhã), porque é a poesia quem me alimenta, é ela quem garante meu pão, é ela quem salva meus olhos, é ela quem lubrifica minha garganta, é ela quem move minha mão em direção às flores, ventos, à pele das mulheres, às curvas das folhas e dos seios, é ela quem sabe meu nome, é ela quem  me permite enxergar as pessoas além do véu da aparência social, além dos seus papeis previamente determinados. 
A política para mim é uma tentativa de realizar a esfera da poesia; não sou ingênuo quanto a isso; nesses poucos anos em que estou no movimento sindical (desde 2006, como dirigente), vi que o pragmatismo impera e que os antigos ideais são abandonados em nome de interesses diretos pelo poder puro e simples com tudo o que ele representa; vi que não há democracia real em lugares onde esperávamos no mínimo uma tentativa de democracia direta. Os embaraços criados por aqueles que dirigem o movimento para não permitirem críticas e/ou transformações na estrutura e na forma de organização do movimento sindical é um capítulo à parte e que figurará na história como mais um triste episódio da mesquinhez planejada da sanha pelo poder. Me refiro diretamente às chamadas centrais governistas, que durante oito anos travaram o movimento sindical para que o mesmo não avançasse em direção a ações revolucionárias, para que não se criasse embaraços ao governo Lula.
Na última eleição para presidente, declarei apoio crítico à candidatura de Dilma Roussef movido principalmente pelo fato de que uma direita ainda mais retrógrada começava a ganhar a possibilidade de voltar ao poder via José Serra, fato que até o senador Aécio Neves, do PSDB, reconheceu como um elemento negativo da campanha. Mas fiz questão de cifrar que era um apoio crítico, porque sabia que, ganha a eleição, o movimento sindical ficaria em polvorosa atrás de cargos, movidos por interesses  que não são os dos trabalhadores, mas os de uma elite dirigente que não refletem aquilo que a classe trabalhadora espera,
Então, o que fazer ? Não consigo ficar no imobilismo. Sonho ainda não com um "Estado Proletário", mas com uma sociedade livre onde mulheres e homens tenham os mesmos direitos a ter aspirações e sonhos, onde não haja opressão do homem pelo homem. Recordo-me com prazer de um trecho do livro ARCANO 17, onde Breton recorda de uma manifestação contra a guerra, ainda em 1917, onde ele ainda jovem viu um mar de bandeiras vermelhas e negras, onde muitos dos que ali estavam eram sobreviventes da Comuna de Paris, herdeiros daquele que fora o maior sonho de um mundo novo. Agora, sonhamos com os pés no chão, mas com o amparo da poesia, para que não caíamos na tentação absolutista, nem no mais tosco materialismo que é incapaz de diferenciar o sonho da sua forma, e fica enredado na aparência das coisas, quando já sabemos que o aparente não é necessariamente o real.
Por isso, porque a poesia me chama com voz de lobo, com suas mãos de sereia, porque ainda acredito no humano, na nossa vontade de construirmos o belo, de superarmos as antinomias não à base da força, mas da inteligência, insisto na ação, na ação livre, ética, pensada ou não, intuitiva ou racional, mas na ação, nos caminhos que procuramos desenvolver para chegarmos à  liberdade. O capitalismo é um óbice à liberdade; a luta para imaginar um outro lugar, um outro mundo não parte de pressupostos irreais, mas na necessidade de salvar o planeta da lógica destrutiva do capital. O momento é de atenção: a crise mundial empurrará o Brasil para um cenário mais recessivo, de corte de gastos, mas também para um cenário de dúvidas e incertezas para a classe trabalhadora. Sou um trabalhador, desses artesãos antigos que se debruçavam sobre a palavra como quem olha não a pedra bruta, mas os ventos que se enredarão para fazer soar a harpa, como aquele que tece guirlandas de sonhos e sai a coroar mulheres e crianças com a esperança, daqueles que, tomados pelo fogo mais secreto, desbastam a matéria bruta para assim fazerem surgir a obra incompleta, que só espera o gesto de quem olha para poder viver.
Então, me afastarei desses meios stalinistas onde a liberdade é uma fábula, onde o controle sobre o pensar e o falar ganha sutilezas cada vez mais terríveis, como a mão de um esqueleto a depositar um véu sobre as coisas, um véu transparente de chumbo que pesa sobre os olhos e faz adormecer, mas não desistirei da luta, não deixarei de agir, ainda que por caminhos tortuosos e sendas estreitas como é a senda de todo poeta; não posso pular para fora da história nem ficar indiferente olhando as coisas como se o mundo inteiro fosse uma paisagem de Turner.

22 outubro 2010

A Tentação do Poder

A eleição transformou-se num grande jogo de vale-tudo, onde a direita já ultrapassou os limites do bom-senso e se aproxima perigosamente das zonas fronteiriças onde impera o medo, a confusão, o caos armado e não o debate de idéias, que é o que garante a vitalidade da democracia enquanto sistema representativo; a democracia é, necessariamente, filha da palavra.
Da mentira à provocação, de braços dados com a estupidez de grupos retrógrados que, em nome de uma falsa moral ou de uma religiosidade extemporânea que prefere apostar no atraso que na mudança, a candidatura de José Serra partiu para o tudo ou nada, estratégia que pode fazer sentido num jogo, numa aposta, não numa eleição. É que as "pessoas públicas" têm uma imagem a zelar: elas são paradigmas, modelos para o outro, e por esse fato têm de manter, não por hipocrisia mas por necessidade, uma imagem adequada que respeite os limites impostos pelas regras criadas pelo próprio meio, de respeitabilidade, civilidade, cidadania. O eleitor tem de ser respeitado enquanto figura principal do discurso democrático.
Os vários episódios suscitados pelo candidato José Serra ou por aqueles que se ligaram a ele - do debate equivocado sobre o aborto à calúnia pura e simples, com a cumplicidade clara de uma imprensa que mostra que, apesar de não assumir (com exceção do Estado, que assumiu a defesa do Serra, o que acho coerente com o discurso daquele jornal), defende a candidatura dele, exigem que, aqueles que não são comprometidos com essa imprensa, corram para esclarecer os fatos, desemaranhar os fios da trama que formam o país e que no discurso fácil dessa direita retrógrada aparecem misturados em doses cavalares de 'senso comum", escondendo ou diluindo a realidade, as diferenças de classe, a existência da opressão e da miséria que existem necessariamente em qualquer sociedade mantida à custa da desigualdade e da diferença.
Podemos dizer que Serra sucumbiu à Tentação do Poder e que agora nessa última semana vai arriscar tudo, sua história pregressa, sua reputação, tudo, em nome desse projeto pessoal de poder. O que significa que nesse curto intervalo de tempo poderá acontecer novos confrontos ditados pela provocação, novas calunias, novas mentiras, novos factóides criados pela imprensa.
Mas isso aumenta ainda mais a responsabilidade da candidatura de Dilma Roussef e dos partidos a ela aliados, que não podem, em hipótese alguma, ceder ao jogo fácil da provocação ou mesmo simplesmente se colocar de vítima e assim achar que tem por si o direito de esquecer de regras que são fundamentais não somente no exercício democrático, mas em toda a vida. Enquanto a candidatura de Serra afasta-se de qualquer horizonte ético, Dilma Roussef têm que zelar para que a ética e a hombridade sejam palavras de ordem na ação política, não tolerando que a violência manche o processo, nem permitindo que mesmo militantes aguerridos partam para o confronto cedendo à tentação da desforra.
O momento é grave, o processo está por um fio e é isso que a direita quer, que o processo seja maculado na origem, para que depois, perdendo a eleição, possam retomar sua agressividade com base num fato anterior que a justifique, e mais que isso, querem a qualquer custo um fato que os salve, uma tábua de salvação que justifique o uso da força, se preciso for. Não esqueçamos que liberais e fascistas sempre andaram de mãos dadas.
Ainda insisto no apoio crítico à Dilma Roussef, até porque acho que não existe apoio incondicional - há questões que terão de ser retomadas, depois das eleições, dentro do governo, do PT, dos movimentos sociais e da própria sociedade, questões que não poderão mais ser adiadas.
Mas a ação da direita, da escória golpista, nos leva necessariamente a agir. Serra age como um personagem faústico, que faz pacto com as forças sombrias em nome do poder. Essas forças sombrias são o medo, o obscurantismo; difícil é controlá-las depois que foram desencadeadas; difícil, mas não impossível.
A cultura não é salvaguarda contra o mal; se o fosse, a Alemanha nunca teria gerado o nazismo. É preciso que a razão faça sempre a crítica de si mesma e mais ainda, é preciso que o conhecimento, além de crítico, seja ancorado em outras sensibilidades que não somente a razão; é preciso que a verdade ainda seja um horizonte a ser buscado.
Sendo assim, enquanto alguns sucumbem à tentação do poder, é preciso que outros resistam preservando aquela soma de valores que nos tornam humanos - solidariedade, amor, respeito, paixão pelo conhecimento, amor à verdade. É preciso resistir também à tentação da resposta pronta, irracional, resistir às provocações. Nos dias que se seguirão, se a candidatura do sr. José Serra cedeu à tentação do poder a qualquer custo, cabe à Dilma Roussef mostrar uma outra ação, uma outra ética; aos militantes, é necessário vigilância e calma, porque o outro lado clama por um desastre.
Ao final, a responsabilidade é de todos nós. Mesmo daqueles que acreditam que só uma sociedade socialista poderá dar conta de resolver as diferenças econômicas e sociais que nos põe sempre à beira do abismo, não só aos homens, mas também ao planeta. Socialismo ou barbárie não é um chavão, é uma necessidade. A construção do socialismo terá de ser uma tarefa da inteligência e não da violência. A violência virá da reação...

19 outubro 2010

Neoliberalismo & Fascismo

Em um ensaio marcado pela sua característica lucidez, “O Combate ao Liberalismo na Concepção Totalitária do Estado”, Herbert Marcuse pôs a nu os laços que unem o liberalismo ao fascismo, mostrando que entre ambos não havia diferenças substanciais que justificassem a presumida oposição; um a um , Marcuse vai desmascarando as supostas diferenças. O fascismo a que Marcuse se refere é a sua variante germânica – o nazismo.

O nazismo pretendia-se uma nova weltanschauung (visão de mundo) oposta ao liberalismo; essa nova visão de mundo seria marcada pelos seguintes elementos a saber: apresentação heróica do homem, oposta ao tipo racional, contra a mentalidade do burguês do século XIX; uma filosofia da vida, vida entendida como “algo primordial”, além do bem e do mal, oposta assim a uma determinação racional da sociedade; um naturalismo irracionalista e um universalismo apoiado na figura de um volk orgânico que seria praticamente o oposto da nação liberal.

Analisando esses aspectos e a justificação nazista para um Estado totalitário, que na boca dos liberais e neoliberais é o oposto da livre sociedade de mercado, Marcuse mostra que fundamentalmente os elementos do Estado totalitário nazista já estão presentes na práxis neoliberal – mesmo que em germe -, sem que houvesse sequer uma resistência ou a insistência liberal em se distinguir do Estado nazista, que estava em seu início no momento em que o artigo foi escrito(1934).

O ponto alto, para mim, é o momento em que Marcuse cita uma frase de Ludwig Von Mises, grande teórico do liberalismo, que disse que “o fascismo e todas as orientações ditatoriais semelhantes (...)salvaram na atualidade a formação civilizatória européia. O mérito por esta via adquirido pelo fascismo sobreviverá eternamente na história.”. Ludwig von Mises é um teórico defensor do liberalismo; por coincidência, há um instituto Ludwig von Mises no Brasil; esse ano o instituto fez um concurso de artigos sobre o “livre pensar” e há ligações entre o instituto e o assim chamado movimento “Endireita Brasil”, o qual possui relações com o PSDB.

Assim, o que fica claro é que liberais e fascistas andaram de mãos dadas e que os liberais viam no fascismo uma saída contra aquilo que eles consideravam o verdadeiro perigo, que era o avanço do “marxismo-leninismo”, ou seja, o avanço de movimentos revolucionários dos trabalhadores em escala mundial a ameaçar a hegemonia burguesa.

Isso tudo para entender, no presente, as relações entre a candidatura de José Serra e a direita raivosa, extemporânea, defensora do golpe de 64. A campanha para presidente tem sido marcada pelos discursos reacionários, medievais mesmo, com uma campanha ativa da igreja e do setor à direita dos evangélicos, contra a candidatura de Dilma Roussef. No bojo das discussões bizantinas estão questões de gênero(a questão do aborto, da união entre homossexuais,etc) ou até mesmo boatos sobre Dilma, fotos dela como suposta “terrorista”, etc, num caldo imprestável que esconde ou dilui as verdadeiras questões a serem discutidas, que são as propostas para um novo governo.

As relações entre essa direita que se diz progressista (psdb) e a direita raivosa(DEM, Opus Dei, herdeiros da TFP, etc) são assim colocadas num plano histórico onde fica evidente que não são relações estranhas: liberais sempre contaram com o apoio dos fascistas e os fascistas sempre contaram com o apoio dos liberais, desde que fosse conveniente para enfrentar aquilo que eles consideram o verdadeiro perigo, que é a ameaça aos seus interesses e a ameaça, em última instância, à propriedade privada. De braços dados eles caminham juntos, corrompem juntos, matam juntos – se for preciso.

A ordem e a legitimidade só são interessantes quando vão de encontro aos interesses deles. Por isso que, quando numa eleição democrática é eleito um candidato progressista à esquerda, “eles” começam a descaracterizar a democracia, dizendo que o povo não sabe votar e em último caso, recorrem à força bruta, como quando do golpe de 64, onde a democracia foi derrubada em nome – pasmem- da democracia.

Por isso temos de ficar atentos a essas relações perigosas, porque há um risco evidente ao projeto progressista em curso – representado pelo Governo Lula, pela ameaça da direita que se articula em torno da candidatura de José Serra; essa direita é a escória da política, a que recorre ao boato, à força bruta, às calúnias, para conseguirem o que querem; uma direita que recorre à Deus, aos santos, a uma mística rebaixada e retrógrada, que fala do inferno e do pecado, mas que não fala da fome e da miséria e não aponta caminhos para libertar o homem, mas sim outros meios de aprisioná-los.

Enfim, é preciso se colocar contra o avanço dessa direita, mesmo que tenhamos críticas à atuação do Governo Lula, afirmando um apoio crítico à Dilma Roussef, somando esforços para que ela vença a eleição, na esperança de que continuemos num projeto de uma sociedade aberta, plural, onde ainda falta muito para avançarmos mas onde, inegavelmente, muito se caminhou para se começar efetivamente uma república, afinal, não há democracia ou república com barrigas vazias.

06 outubro 2010

De Madureiras e Burrices

Alguém leva a sério o que fala o sr. marcelo madureira ?(ver em http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/marcelo-madureira-chama-lula-de-vagabundo-e-picareta.html) Ainda mais sendo entrevistado pela branca sombra pálida do diogo mainardi ?
É possível ainda validar as palavras desses senhores insanos de tanto preconceito, incapazes de enxergar qualquer horizonte que não comece e termine em seus próprios umbigos ?
A direita brasileira se afasta de qualquer debate progressista e se entrincheira atrás de pilhas de preconceitos e respostas prontas, como um mágico que tira da cartola sempre o mesmo coelho.
O pior é ter de ouvir os ideólogos desse neofascismo falar em nome da liberdade, imaginar que a liberdade tem a cara de um comercial da VEJA...
E nem é preciso ser fã do Lula para repudiar essa estupidez neofascista, basta desejarmos uma sociedade limpa, onde a democracia se dê de maneira plena e não seja somente um artigo para as elites.
Enfim, deixem que os mortos enterrem seus mortos e sigamos em frente.

13 setembro 2010

Pílulas Para Acordar - Sabedoria Contra o Capitalismo Real IV




- Nosso mundo se transformou num quadro de Brueghel?

- O que o exército brasileiro faz no Haiti?

- O discurso das competências: a pergunta é: competências para quem ? A maior competência é aquela do sujeito em se libertar do que lhe oprime, inclusive daqueles que falam sobre competências.

- As 'competências' são maneiras de regular a subjetividade dos sujeitos para conformá-la aos fins do capital.

- Orgulho-me de nunca ter sido um bom vendedor - uma competência que nunca quis ter.

- Perverter, falsificar ou esconder a História - tanto o passado (os registros do passado) como a memória, é uma maneira de esgotar o presente, esvaziá-lo das significações implícitas ao seu acontecer. Normalmente a história é soterrada - maneira de ocultar as misérias, a dor, a luta de classes, a opressão. Há um silêncio que é como uma espada sobre a cabeça; e esse mesmo silêncio é mantido à base de 'espadas'.

- As pessoas andam pelas ruas em busca de um sentido, mas o sentido não está no espaço, mas no tempo e na interioridade. Só no dia em que o espaço for redimido é que o homem encontrará nele seu sentido.

- A transitoriedade garante a permanência do sentido. Vida é dinâmica e só se deixa perceber em movimento.

- Os sujeitos sociais são dinâmicos; a substância individual dos sujeitos sociais encontra-se no espaço, no papel que cada um assume para si.

- o flanneur é o sujeito social sem substância e sem identidade de classe.

- Os neoliberais apresentam ao mundo um conjunto de certezas e premissas que se mostraram falsas com a crise que se iniciou em 2008. Resta-nos, a nós que nos opomos a essa lógica sem sentido, desconstruir o discurso neoliberal, a falácia de seus valores, o absoluto sem sentido que é apostar no auto movimento do dinheiro como elemento regulador do mundo. O mundo precisa ficar nas mãos dos homens; mas como Diógenes já ensinou, o difícil é achá-los.

- A normalidade é uma construção social burguesa que só à força de manicômios e repressão policial logrou se instalar no mundo. Antigamente os loucos tinham um lugar no mundo: agora a loucura é subterrânea, oculta. Se a loucura é também resultado de uma crise de sentidos, então ela é inerente a esse modelo de civilização, que em nome de uma ordem racional instaura o mais absurdo sem sentido a reger-nos a vida: o dinheiro como meio e fundamento.

- No Capitalismo todo real é pervertido e não somente o real social: a natureza, o espaço, o cosmos, são desvirtuados em sua natureza. A natureza é manipulada e vista como produto, sem que se leve em consideração seu aspecto inter-relacional. O espaço é apropriado e manipulado ideologicamente e o cosmos não é enxergado como elemento real - a matéria que nos assola o cotidiano, com que somos bombardeados diariamente pela televisão, pela Internet, pelo rádio, é o trivial do trivial: as inter-relações do mundo do consumo, as inter-relações da indústria cultural, as máscaras do fracasso político. Ou seja, somos alimentados -culturalmente - com a nata da estupidez.

- A ciência nos traz a surpresa: o sol deixou de ser uma mera bola de fogo e passou a ser uma estrela enigmática - pequena, mas enigmática.

23 agosto 2010

Pílulas para Acordar - Sabedoria contra O Capitalismo Real III


Ocultamentos

- O "Endomarketing" das empresas esconde os fatos, mascara o real. As revistas corporativas visam tanto legitimar os procedimentos de exploração quanto projetar uma imagem da realidade: o real é diluído em imagens felizes, em lemas de auto-ajuda, na propaganda de ações corporativas que servem para negar o stress real, o adoecimento, a dor; é como se dissessem aos trabalhadores: vocês nunca foram tão felizes senão escravizados...

- Os muros: em torno da Palestina, em torno das favelas do Rio de Janeiro: o opressor não só não quer ver o resultado da opressão, como ainda o esconde.

- Os diagnósticos sobre saúde mental: o ocultamento da loucura e da depressão coletivas.

- A literatura de auto-ajuda a mascarar o absoluto sem sentido que a vida se tornou.

- As estatísticas sobre a violência: no Brasil a tortura contra presos comuns é uma prática sistemática e o Estado não faz nada contra isso. Presos comuns são pobres. No dia em que for torturado um filho da burguesia o Estado abrirá os olhos.

- O socialismo tecnológico dos gadgets a esconder o abismo intransponível das classes.

- O virtual e o real: o virtual - uma sociedade livre, onde a felicidade depende do esforço individual, mas tendo a garantia do Estado de que se é livre para buscá-la. O real - uma sociedade de classes onde uma maioria é explorada até a exaustão, onde uma minoria garante para si a perpetuação do poder e de seu modo de vida auto-fágico, mesmo que às custas do próprio planeta.

- É preciso desmistificar o aparente. O real é mais complexo do que o discurso sobre o aparente; para entender o real, seja ele social, econômico ou mesmo abstrato-científico, é sempre preciso ir além do senso comum.

- Disseminar o senso-comum é uma maneira de esconder a opressão.

- O patriarcalismo e as oligarquias brasileiras esbanjam o uso do senso comum e do aparente em seus discursos.

- A aparente legitimidade do poder da burguesia é uma mentira: não há legitimidade num poder que se mantém à base de violência, corrupção e dinheiro.

- "A essência da realidade reside na resistência ao conhecimento." - Gaston Bachelard, no ENSAIO SOBRE O CONHECIMENTO APROXIMADO

- Com o real social acontece o mesmo, mas a complexidade é também pelo fato de que a sociedade é uma construção humana e o homem nega, rejeita ou não se reconhece em seus próprios objetos.

- A informação (jornalística) é uma construção ou uma deslavada mentira. A mídia constrói um discurso fictício e projeta um mundo fictício, para que as pessoas permaneçam adormecidas dentro daquilo que lhes oprime.

- Não há sentidos no existente, nem para os oprimidos nem para os opressores. Ambos estão aprisionados em cadeias ilusórias de sentidos: os oprimidos, na luta pela sobrevivência e nas esperanças religiosas; os opressores, no consumismo de luxo, nas relações em torno do status quo,no apego às evidências de sua riqueza.

- É preciso que a angústia e o vazio mobilizem as forças individuais para criarem novos valores.

- Não há raças, dizem os racistas de plantão quando querem condenar o sistema de cotas. Mas a questão não é biológica, é histórica. Os negros, após a escravidão, nunca receberam nenhum amparo do estado, saíram das senzalas para as favelas. É preciso corrigir essa distorção histórica.

- O que se esconde: que a opressão não é natural, que o trabalho é uma força que se reproduz através dos sujeitos mas que não os liberta, que não há o menor sentido na vida que se leva, que o presente já se esgotou.

- É preciso ficar atento aos relógios. O tempo é manipulado contra nós.

- É preciso falar aos quatro ventos: no Haiti, para aliviar a fome, as pessoas comem bolos de argila e gordura. No Haiti, por causa da fome, as pessoas comem bolos de argila e gordura. No Haiti as pessoas comem bolos de argila e gordura.

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