Por mais que os meios de comunicação tratem de maneira rotineira e sensacionalista, é preciso dar atenção a dois lamentáveis e recentes episódios de assassinatos de mulheres.
Não vou comentar nomes nem citar ou descrever aquilo que já está estampado em todos os lugares; nosso silêncio é a marca do respeito que temos por aquelas que morreram vítimas da violência e da estupidez masculina. Mas também não podemos deixar passar, fazer de conta que não aconteceu.
Porque os assassinatos são somente a ponta do iceberg da violência generalizada que ainda é praticada contra as mulheres - espancamentos, humilhações, violência sexual...etc; a lista é longa e indesejável, tem gosto ruim como quando levamos um soco no estômago.
Essa não é uma sociedade que de alguma maneira rejeita o feminino, tal e qual ele é ? O que anda a acontecer com os homens, ou então não queremos admitir que sempre foi assim, que essa violência sempre foi costumeira ? As mulheres mudaram, alguns homens também mudaram. O feminino se transformou e o masculino meio que foi a reboque, procurar seu lugar, procurar sua imagem, procurar o contraste frente às novas mulheres emancipadas, donas de si mesmas.
Mas não sei se mulheres e homens encontraram seu lugar, porque a verdade é que ninguém tem lugar numa sociedade fraturada, e muitas das mudanças do feminino foram incorporadas pela lógica do sistema, e se a emancipação das mulheres as livrou da tutela dos maridos ou companheiros, muitas vezes tornou-as reféns dos mecanismos da escravidão do trabalho, sendo assim só a emancipação social de mulheres e homens pode libertá-los de qualquer jugo.
O que não se pode tolerar mais é a impunidade ou a conivência que há com a violência contra a mulher.
Dias atrás, uma mulher foi assaltada dentro de uma delegacia em Sorocaba, na frente do escrivão e de outro policial; perguntados porque eles não intervieram, falaram que pensavam que o assaltante fosse um marido ou namorado da mulher, então não ligaram. Ou seja, se fosse o marido, poderia ficar arrastando a mulher para fora da delegacia usando de violência, os policiais reconheciam naquele gesto um direito tácito do marido sobre a presumida esposa. Se a autoridade policial pensa assim, a quem a mulher poderia recorrer ? Se essa é a mentalidade de pessoas que estão em postos chaves no Estado, o que se pode esperar ?
Enquanto lutamos, nós que acreditamos na igualdade de direitos (pois os gêneros nunca serão iguais) para educar e conscientizar a nova geração que está sob nossa responsabilidade - seja como pais ou professores que somos-, é preciso lutar na esfera social e jurídica para não deixar que a impunidade premie assassinos. Assassinatos de mulheres se repetem com frequência, as pessoas se indignam, bradam e depois tudo passa até que volte a se repetir a mesma cena; e nos perguntamos: até quando ?
Um comentário:
Oi...
Hoje, vieram aqui em casa algumas amigas e estávamos conversando sobre isso. Parece que você ouviu nossa conversa e escreveu este artigo, que me chega mais como uma homenagem, pois é de uma sensibilidade ímpar...Obrigada.
Beijo no seu coração.
Con
Postar um comentário