25 agosto 2007

Mini Postagem: Geraldo Vandré Cantando Aroeira

Está ali ao lado, na barra de vídeo: Geraldo Vandré cantando Aroeira. É um momento único; quem conhece a letra de Aroeira sabe o que quero dizer: a gravação de 1967 - a ditadura aprofundava cada vez mais suas garras tentaculares sobre o poder e sobre o povo - e ele vai cantar Aroeira no festival da Record! Transcrevo a letra:

Vim de longe, vou mais longe
quem tem fé vai me esperar
escrevendo numa conta
pra junto a gente cobrar
pro dia que já vem vindo (bis)
que esse mundo vai virar

Noite e dia vem de longe
branco e preto a trabalhar
e o dono senhor de tudo
sentado mandando dar
e a gente fazendo conta
pro dia que vai chegar
a gente fazendo conta
pro dia que vai chegar

marinheiro, marinheiro
quero ver você no mar
eu também sou marinheiro
eu também sei governar
madeira de dar em doido
vai descer até quebrar:
é a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar


Nunca fui fã da arte dita engajada, porque na maior parte das vezes ela vira uma arte subordinada a poderes e interesses e se a arte realmente quiser contribuir com a liberdade ela também tem que ser livre; porém, confesso que essa música sempre me fascinou, pelo seu ritmo, pela sua força. Eu a escutava quando era criança e não entendia bulhufas do que ele estava falando, mas mesmo assim a música exercia um fascínio enorme.
Ainda gosto dela, mas tenho sempre minhas reservas quanto à arte engajada. Breton já nos alertara, há muito tempo, sobre os riscos de submeter a arte a ditames programáticos e políticos, porque na realidade o poder da arte, sua veia transgressora, está em fundir a subjetividade do artista com o mundo objetivo, e assim romper a mecanicidade estabelecida pela lógica e pelas instituições, sem precisar direcioná-la a um objetivo político específico. Claro que há também possibilidades que na arte engajada aconteça grandes obras - Brecht e Maiakovski estão aí como prova. Mas se formos comparar, será que não é, visto de hoje, depois de tudo que aconteceu, será que não fica claro que a melhor parte da obra de Maiakovski é sua lírica e que, de alguma maneira, a poesia de Mandelstan ou mesmo de Pasternak não parecem hoje mais políticas, pelo seu significado frente ao estado totalitário de Stalin ? E mesmo Brecht não nos soa um tanto hipócrita, com seu silêncio consentido sobre os crimes de Stalin ?
Ora, Benjamin Peret era terrivelmente revolucionário e nunca escreveu uma poesia programática ou política; em compensação, o grande Paul Eluard alugou sua pena para os filhos de Stalin...
Mas mesmo assim gosto de Aroeira; e ela parece mais forte quando olhamos os tristes dias de hoje, onde a massa anônima parece se contentar com a miséria ou então não sabe como gritar, não sabe como cantar; ela nos parece mais forte, quando vemos a elite sentada em seus castelos de areia sugando a natureza e os homens, esperando o fim da história. Então, aroeira neles!

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei! Essa música causa um impacto sensacional! Se ele não tivesse sido exilado... :( Mas adorei, muito bom você colocar a letra!!!!!! ;))