










um espaço para discutir as utopias, desfazer quimeras e imaginar alternativas concretas de pensar um outro mundo não capitalista
Fica claro a fica de concentração de serviços, a excessiva especialização já apontada por Ormindo quanto a outros processos, especialização esta que gerará novas demandas e novas transferências de economia de um bairro para outro, bem como a outra política, a da exclusão da população pobre, vai significar a transferência dessa população de um bairro para outro.
Asas Que Se Abrem
Minha voz é rouca, mancha submersa
espelho dos meus olhos
onde passam sombras, desesperos
dos mortos-vivos sobre a terra
loucos da fome, insânia da miséria
deuses vestidos de andrajos
loucos da dor, da indiferença
poetas de um texto a escrever
ah, valha mais a loucura que o fausto da usura
mais as palavras que machucam
as flores do dia
que os crepúsculos mortos dos edifícios
onde se compra a vida, se planeja a morte
milhares de almas acorrentadas pela fome
um dia gritarão no meio dos abismos
ventos marcharão contra as portas das cidades
cegos, loucos, também são deuses
o que tu vês, Tirésias das esquinas
além do que a morte
escancara em nossas retinas
o que tu ouves além
dos gritos dos fetos jogados no lixo
dos loucos que discutem pelas praças
com moscas e mendigos
diz, ó Dionísio
que piratas tu transformarás em pedra
que hera tu trarás para os muros da cidade
que febre cobrirá o pântano dos corações apodrecidos
pelo gelo da ganância
que o sexo dos homens enlouqueça
e as prostitutas ganhem asas
vejo um pão amassado
por prensas de papel-moeda
vejo cédulas onde corre sangue
e sangue cheio de cifrões
ó Moira que paira sobre deuses e abismos
estende tuas asas
sobre os mortos de papel
pesai os ossos
dessa fábrica do medo
minhas letras são tintas de angústia
ouvi o eco dos deuses
as paredes gritavam
quem redimirá os mortos, quem
libertará o gênio da terra, quem
derramará a água do futuro
deuses, sou só um poeta
um bicho cósmico uivando no espaço
não me peçam para redimir o mundo
flutuo sobre pontes, entre palavras
procuro o amor absoluto
tenho os pés feridos, inchados
meu calcanhar é o coração
não me peçam uma canção pelos mortos
não me peçam sementes, estradas, girassóis
tenho ombros onde esferas se derramam
germinando tempos
tenho olhos que enxergam cosmos
no coração de uma menina
ó vozes em tibetano antigo
vozes em dialeto de cristal
os ossos gritam sob a terra
vozes de escravos, vozes de índios
sangue misturado ao milho
carne de Mani
não posso redimir o tempo
não posso deter
a marcha dos elementos
eu que achei o amor
em forma de nereida
eu, que naveguei os mares do inferno e as águas da esperança
sou somente um gesto
asas que se abrem mais que as horas
liberdade que flutua, dente de leão
não me peçam a redenção
sou poeta
meu coração tem todos os gritos
não posso redimir o mundo
estou
só.
Quero preservar meu sangue vermelho
das maquinações verdes dos banqueiros
quero salvar minha pele
do ócio gorduroso
do dinheiro
quero lavar meus olhos, tirar
o cancro terminal
das bolsas de valores
explodir em dinamites finas
a pura idolatria
dos servos de Mamon
queimar, com a virulência da palavra
a cal amarga
do dinheiro
vomitar em raios de luz
a servidão voluntária
ao trono financeiro
audaciosamente desprezar
o tilintar vazio
do ouro
rasgar tratados
enforcar
os deuses santos do capitalismo
quero bem mais
que horizontes subterrâneos
sim
à alegria vertical do sol
ao coração secreto do mundo
aos olhos meigos do albatroz
aos espaços
ao silêncio
ao não de uma noite de deuses
Somos todos deuses
no umbral do inaudito
somos todos puro devir
não nos seja mais que a vida
seguir.